Mecanismos de Defesa

Segundo Sigmund Freud, após seus estudos sobre o Narcisismo e o complexo de Castração e Édipo, aperfeiçoou o conceito de inconsciente, formulando a Teoria Estrutural Id, Ego, Superego que é um sistema, onde as pulsões do Id, as funções do Ego, os mandamentos do Superego se definem em um conjunto de elementos que constituem uma relação organizada sendo interdependentes entre si. Portanto, uma estrutura é um sistema, de forma que uma mudança qualquer em um dos componentes provoca alteração nos demais.

O Id é um elemento psicológico de nossa mente. Onde ficam armazenadas nossas pulsões, nossa energia psíquica, nossos impulsos mais primitivos. Norteado pelo princípio de prazer, não há para o Id nenhuma regra a ser seguida, tudo o que interessa é a realização do desejo, a ação, a expressão, a satisfação.

O Id fica localizado no nível inconsciente do cérebro, e não reconhece elementos sociais. Portanto, não há certo ou errado. Não há tempo ou espaço. Não importam as consequências. O Id é o ambiente dos impulsos sexuais. Ele está sempre buscando formas de realizar esses impulsos, ou seja, não aceita ser frustrado.

O Ego seria, para Freud, o elemento principal entre Id, Ego e Superego. Ele é a nossa instância psíquica e evolui a partir do Id, por isso, possui elementos do inconsciente. Apesar disso, funciona principalmente a nível consciente. Direcionado pelo princípio de realidade, uma de suas funções é limitar o Id quando considerar seus desejos inadequados para determinado momento ou ocasião. O Ego representa a mediação entre as exigências do Id, as limitações do Superego e a sociedade.

Portanto, uma pessoa que não possua o Ego bem desenvolvido, não poderia desenvolver também o Superego. Sendo assim, seria direcionada exclusivamente por seus impulsos primitivos, ou seja, pelo Id.

O superego é o aspecto da personalidade que mantém todos os nossos padrões morais internalizados e ideais que adquirimos dos pais e da sociedade, é nosso senso de certo e errado. O superego fornece diretrizes para fazermos julgamentos. Segundo Freud, o superego começa a surgir por volta dos cinco anos.

Superego resulta, muitas vezes, das imposições e castigos sofridos na infância. Ele se encontra e participa desses dois níveis mentais. Sendo um aspecto social do trio Id, Ego e Superego. O Superego é a censura, a culpa e o medo da punição. Pode ser visto como uma instância reguladora. A moral, a ética, a noção de certo e errado e todas as imposições sociais se internalizam no Superego. A consciência inclui informações sobre as coisas que são vistas como ruins pelos pais e pela sociedade. Esses comportamentos são frequentemente proibidos e levam a consequências ruins, punições ou sentimentos de culpa e remorso.

O superego atua para aperfeiçoar e civilizar o nosso comportamento. Ele trabalha para suprimir todos os impulsos inaceitáveis do id e se esforça para realizar o ato do ego nas normas idealistas em vez de princípios realistas. O superego está presente no consciente, pré-consciente e inconsciente.

Sendo assim, surge os mecanismos de defesa, uma denominação dada por Freud para as manifestações do Ego diante das exigências das outras instâncias psíquicas Id e Superego.

Os mecanismos de defesa são as estratégias do ego, de forma inconsciente, para proteger a personalidade contra o que ela considera ameaça. São, também, os diversos tipos de processos psíquicos, sua finalidade é afastar o evento que gera sofrimento, da percepção consciente. Portanto, segundo Freud, os mecanismos de defesa são mobilizados diante de um sinal de perigo e desencadeados para impedir a vivência de fatos dolorosos, que o indivíduo não está preparado para suportar. Assim sendo, essa é mais uma função da análise, preparar o indivíduo para suportar tais eventos dolorosos.

Todos os mecanismos de defesa exigem certo investimento de energia e podem ser satisfatórios ou não em cessar a ansiedade, o que permite que sejam divididos em dois grupos: Mecanismos de defesa bem-sucedidos e aqueles ineficazes. Os bem-sucedidos são aqueles que conseguem diminuir a ansiedade diante de algo que é perigoso. Os ineficazes são aqueles que não conseguem diminuir a ansiedade e acabam por constituir um ciclo de repetições. Nesse último grupo, encontram-se, por exemplo, as neuroses e outras defesas patogênicas.

Alguns mecanismos de defesa: Recalcamento ou Repressão; Negação; Regressão; Deslocamento; Projeção; Isolamento; Sublimação; Formação reativa. Cada mecanismo de defesa tem uma forma específica de funcionamento, vamos conhecer o Recalcamento ou Repressão.

Recalcamento ou Repressão é um dos mecanismos de defesa que nasce do conflito entre as exigências do Id e a censura do Superego. Assim, é o mecanismo que impede que os impulsos ameaçadores, desejos, pensamentos e sentimentos dolorosos cheguem à consciência.

Por meio da Repressão, o indivíduo provoca o afundamento no inconsciente da causa de seu distúrbio. Então, o recalcado se sintomatiza, transferindo para o próprio organismo as dores do inconsciente ou transformando-as em sonhos ou em algum sintoma neurótico.

Os processos inconscientes se tornam conscientes através dos sonhos ou neuroses. Sendo assim, o recalque é uma defesa inconsciente para a dificuldade em aceitar ideias penosas. Trata-se de um processo que tem por objetivo proteger o indivíduo, mantendo no inconsciente as ideias e representações das pulsões que afetariam o equilíbrio psíquico.

O recalque também é uma força contínua de pressão, que baixa a energia psíquica do sujeito. Então, o recalque pode surgir na forma de sintomas, e o tratamento psicanalítico visa o reconhecimento do desejo recalcado. O fim dos sintomas é consequência do processo da análise.

Exemplo: uma criança vive ou sofre um ato traumático na infância e o reprime de uma maneira na qual, com o passar dos anos, chega a esquecê-lo e assim não precisa mais enfrentá-lo. Sendo assim, o recalque é o processo pelo qual um impulso ou ideia inaceitável vai para o inconsciente. O indivíduo nega essas ideias, pensamentos e memórias para mantê-los apenas no seu inconsciente.


Karina Statuti | Psicanalista

Referência bibliográfica
ZIMERMAN, D. E. Fundamentos Psicanalíticos [recurso eletrônico]: Teoria, técnica e clínica. Porto Alegre: Artmed, 2007.
Editado também como livro impresso em 1999.
ISBN 978-85-363-0814-2