Reflexão sobre a história de Édipo e como identificamos o complexo de Édipo na terapia.

O Complexo de Édipo foi proposto pela primeira vez por Freud em seu livro A Interpretação dos Sonhos, ainda que ele não tenha começado a usar o termo, formalmente, até 1910.

A denominação desse termo é retirada da peça de Sófocles intitulada “Édipo Rei”. Na peça o personagem Édipo acidentalmente mata o seu próprio pai e acaba se casando com a sua mãe.

A peça “Édipo Rei” de Sófocles faz parte de uma trilogia, que inclui as obras “Antígona” e “Édipo em Colono”. No enredo, um bebê tebano é deixado para morrer no Monte Citerão, entre Tebas e Corinto. Entretanto, um pastor coríntio o leva para sua cidade, na qual ele é adotado pelo rei Pólibo. Já jovem, ao consultar o oráculo de Delfos para saber sobre a sua origem, Édipo ouve uma terrível profecia, a de que o seu destino é matar o seu pai e desposar a sua própria mãe. Para fugir desta profecia, ele abandona Corinto. Mas, para a tragédia grega, o destino é uma trama inescapável. Em suas andanças, Édipo encontra por uma estrada um homem idoso, com quem acaba discutindo. Então, Édipo mata esse homem e quase toda a sua comitiva, restando apenas um homem. Ao chegar a Tebas, a Esfinge lhe propõe um enigma: “qual animal se apoia em 4 patas de manhã, duas patas à tarde e três à noite?”.

Édipo desvenda o enigma: o homem, que no início da vida engatinha, na idade adulta caminha sobre duas pernas e, idoso, caminha com bengala. Ao responder, Édipo salva a sua vida e a da cidade. Como recompensa, ele é nomeado rei de Tebas e desposa a irmã do então rei, Creonte. Jocasta, viúva de Laio, assassinado. Após 15 anos uma peste assola Tebas. Após consultarem o oráculo de Delfos para saberem o que fazer para salvar a cidade. O oráculo diz que o assassino do rei Laio deve ser punido. Então, o cego Tirésias diz a Édipo que o assassino está mais perto do que eles imaginam. Nesse momento, um mensageiro de Corinto chega e revela que o rei de lá falecera e diz que Édipo é filho legítimo do rei; também é quando aparece o sobrevivente da comitiva de Laio, que, por sinal, é o mesmo homem que abandonara o bebê no Monte Citerão. A criança que agora está diante dele, é o rei de Tebas, Édipo.

Após essa descoberta, Édipo fica desolado. Fura os próprios olhos, passa a perambular sem destino pelo mundo, como seu castigo. A rainha Jocasta se suicida.

Segundo Sigmund Freud, o complexo de Édipo é um termo psicanalítico de sua teoria de estágios psicossexuais do desenvolvimento teoria da sexualidade. O complexo de Édipo é um termo usado para descrever os sentimentos de um menino e sua mãe. Um menino tem desejo pela mãe, ciúme e raiva em relação a seu pai. O menino se sente em concorrência com o pai por posse de sua mãe. Ele vê seu pai como um rival para suas atenções e afetos. Sendo assim, o complexo de Édipo é um conceito universal na psicanálise. Um conceito que fala sobre sentimentos como o amor e o ódio, direcionados àqueles que mais nos são próximos, nossos pais. Ocorre durante o desenvolvimento psicossexual da criança, na teoria de Freud o desenvolvimento psicossexual se divide em estágios.

Estágio oral (nascimento até 1 ano)
Interação primária de uma criança com o mundo é através da boca. A boca é vital para comer, e a criança obtém prazer da estimulação oral por meio de atividades gratificantes, como degustar e chupar. Se esta necessidade não é satisfeita, a criança pode desenvolver uma fixação oral mais tarde na vida, cujos exemplos incluem chupar o dedo, tabagismo, roer unha e comer demais.

Estágio Anal (1 a 3 anos)
Freud acreditava que o foco principal da libido estava no controle da bexiga e evacuações. O aprendizado do uso do banheiro é uma questão primordial com as crianças e os pais. Demasiada pressão pode resultar em uma necessidade excessiva para a ordem ou a limpeza mais tarde na vida, enquanto que muito pouca pressão dos pais pode levar a um comportamento confuso ou destrutivo mais tarde.

Estágio fálico (4 a 6 anos)
Freud sugeriu que o foco principal da energia do id é sobre os órgãos genitais. De acordo com Freud, a experiência do menino é uma experiência de Complexo de Édipo e da menina é Complexo de Electra, ou uma atração do menino para mãe, ou da menina para o pai. Para lidar com este conflito, as crianças adotam os valores e as características do sexo oposto, formando assim o superego.

Estádio latente (6 a puberdade)
Durante esta fase, o superego continua a se desenvolver, enquanto as energias do id são suprimidas. As crianças desenvolvem habilidades sociais, valores e relacionamentos com colegas e adultos fora da família.

Estágio Genital (Puberdade em diante)
O início da puberdade faz com que a libido se torne ativa novamente. Durante esta fase, as pessoas desenvolvem um forte interesse no sexo oposto. Se o desenvolvimento é bem sucedido neste ponto, o indivíduo irá continuar a evoluir para uma pessoa bem equilibrada.
De acordo com Freud, o complexo de Édipo tem um papel muito importante na fase fálica do desenvolvimento psicossexual. Além disso, para ele, a conclusão desta etapa envolveria a identificação do menino com o pai. E isso contribuiria para o desenvolvimento de uma identidade sexual madura. Trata-se, portanto, de uma fase que, geralmente, é superada pelo menino.

Além disso, também existe uma fase análoga ao Complexo de Édipo para as meninas, à qual é conhecida como Complexo de Electra, na qual as meninas sentem desejos pelos seu pai e ciúmes de sua mãe.

Para Freud, as características do complexo de Édipo estão presentes em todos os seres humanos, tendo a presença do pai e da mãe; não existe como escapar desta trajetória, a qual constitui o centro do conflito humano. Essa estrutura defini a psíquica do indivíduo, e não está presente apenas em sua infância, mas em toda a sua vida.

Na terapia psicanalítica, esta fase pode ser resolvida com o desenvolver de um adulto com uma identidade saudável. A criança deve se identificar com o genitor do mesmo sexo. Assim ela resolve o conflito incestuoso e característico do Complexo de Édipo.

Segundo Freud, essa fase envolve o id e o ego, o primitivo id quer eliminar o pai, e o ego, realista, sabe que o pai é muito mais forte. É quando surge a angústia da castração no menino, que teme que o pai mais forte se imponha contra ele.

Ao descobrir as diferenças físicas entre o homem e a mulher, a criança acha que o pênis do sexo feminino foi removido. Com isso, o menino também acha que o seu pai irá castrá-lo por desejar a sua mãe, é o chamado Complexo de Castração.

Esse conflito pode se resolver quando o filho menino deve se identificar com o pai. Aceitando a figura do pai, mantendo uma relação com o pai e elaborando uma afeição saudável a figura paterna. Pois, se o filho desafiar o pai, poderá estar em posição vulnerável. Para superar o complexo de Édipo e seguir em frente, o filho deverá aceitar a supremacia do pai e a impossibilidade de ter o amor conjugal com sua mãe.

Sendo assim, o indivíduo estará livre para se fixar a outros objetos de amor, isto é, realizar-se com outra pessoa, ter uma profissão, assumir um papel de responsabilidade pessoal, familiar e social. A partir dessa superação é que se forma o superego. O qual atua como uma autoridade moral interna. Por isso, essa fase, para Freud, é tão importante para o desenvolvimento psicossexual do indivíduo.


Karina Statuti | Psicanalista

Referência bibliográfica
ZIMERMAN, D. E. Fundamentos Psicanalíticos [recurso eletrônico]: Teoria, técnica e clínica. Porto Alegre: Artmed, 2007.
Editado também como livro impresso em 1999.
ISBN 978-85-363-0814-2