No mundo atual a convivência entre pais e filhos se tornou um grande desafio, polarizando a discussão: será que estamos criando bem os filhos dessa geração?

Toda criança depende muito, tanto físico como emocionalmente, dos cuidados de seus progenitores. Os indivíduos adultos desejam ter filhos, mas não querem abrir mão de suas vidas anteriores para criar uma criança.

Porém, segundo Donald Woods Winnicott, o desenvolvimento saudável do sujeito depende de suportes ambientais que possibilitam a integração, a personalização e o estabelecimento das relações objetais ao longo das fases de desenvolvimento e de dependência do ser. Um ambiente facilitador permitirá o estabelecimento de um verdadeiro self e da experiência criativa do viver.

Donald Woods Winnicott (1986 – 1971) foi médico pediatra inglês, conhecido como um dos grandes teóricos e clínicos da psicanálise pós-freudiana. Ele trabalhou em hospitais e também durante a Segunda Guerra Mundial, onde pôde perceber que muitas das questões que levavam pacientes ao seu consultório diziam respeito às perturbações ambientais resultantes da interação entre o indivíduo e o ambiente. E foi debruçado sobre o papel do ambiente no desenvolvimento e na saúde do sujeito, que Winnicott descobriu funções referentes ao cuidado materno que se mostraram essenciais para o desenvolvimento saudável do ser e pôde apresentar conceitos, que se tornaram de grande relevância para a psicanálise, como desenvolvimento emocional, ambiente facilitador, mãe suficientemente boa, integração, rumo à independência, preocupação materna primária, holding, handling, apresentação de objetos, objeto transicional, verdadeiro e falso self, criatividade primária, delinquência, tendência antissocial, entre outros.

Sendo assim, essas relações entre seus trabalhos ou vidas sociais dos adultos, que desejam criar e educar uma criança, envolve adequações, onde os adultos devem se adaptar às vidas das crianças, não as crianças se adaptarem aos ‘mundos’ dos adultos, pois uma criança exige cuidados, comprometimento e responsabilidades.

Em nossos tempos, é muito comum ver os adultos terceirizando os cuidados tantos físicos como emocionais a outras pessoas; muitos indivíduos exigem que os professores, terapeutas, avós, tios até amigos próximos eduquem seus filhos, e assim se esquivam das responsabilidades. É um tipo de fuga emocional, querem viver na facilidade da era moderna, mas quando se diz respeito à uma criança, é uma vida de um outro ser que depende totalmente dos adultos envolvidos nesse processo de aprendizado, pois para serem pais também é necessário aprender a ser; não tem como apenas estar sendo pais naquele momento da vida da criança; precisa participar, estar presente, fazer acontecer, ter paciência, diálogo e muita informação. Obter uma ajuda de profissionais na criação e educação dos filhos é até saudável, mas querer que outras pessoas façam isso, não irá funcionar e os resultados serão catastróficos.

No caso das crianças isso é impossível, pois os vínculos, principalmente emocionais, são de responsabilidade dos pais. Uma criança bem amparada na infância será um adulto bem resolvido.

Winnicott em sua teoria do Desenvolvimento Emocional Primitivo descreve a importância da relação das crianças com os adultos ao redor, e defende que a figura do bebê tem seus próprios conhecimentos, mas ainda é de grande fragilidade física e psíquica, necessitando do cuidado de um adulto para desenvolver-se plenamente. E foi nesse contexto que ele escreveu a famosa frase: “Não existe essa coisa chamada bebê”. Significa, para ele, que o adulto é fundamental para interpretar suas necessidades e ajudá-lo na sua adaptação ao mundo.

Karina Statuti
Psicanalista clínica

Referência bibliográfica
ZIMERMAN, D. E. Fundamentos Psicanalíticos [recurso eletrônico]: Teoria, técnica e clínica. Porto Alegre: Artmed, 2007.
Editado também como livro impresso em 1999.
ISBN 978-85-363-0814-2